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Representatividade na telinha

Em Casa da Vó, a cantora baiana Margareth Menezes interpreta uma impagável senhora pagodeira que divide o teto com quatro netos em São Paulo. A série cômica estreou no dia 25 de dezembro passado, marcando a estreia de uma nova plataforma de streaming, a Wolo TV. O apelido “Netflix da diversidade” é bastante apropriado: a nova empresa tem como meta dar espaço apenas para pessoas negras, tanto diante quanto atrás das câmeras. “Mais da metade da população brasileira é preta, mas 98% das produções audiovisuais do país são comandadas por brancos”, diz Licínio Januário, 29 anos, um dos fundadores da nova plataforma. “Passou da hora de equilibrarmos esses números. O país não se reconhece no que é produzido.”

Angolano radicado há 15 anos no Brasil, Januário montou a Wolo TV em parceria com o gaúcho Leandro Lemos, 43 anos, que mora no Canadá. O sócio responde pela área comercial da companhia — no ambiente das startups, Lemos ficou conhecido por fundar e vender a TechParking, responsável por aquele sistema que indica com lâmpadas as vagas em estacionamentos. Ator, roteirista e produtor, Licínio é responsável pela parte criativa da empreitada. Os dois investiram R$ 1,2 milhão no negócio — no momento, estão em busca de investidores para aprimorar os serviços. O nome escolhido, uma expressão africana que equivale ao nosso “eita”, reflete a ambição da dupla de levar a plataforma para outros países — não à toa, ela está registrada no Brasil e nos Estados Unidos. “É um nome fácil e alegre”, afirma Januário.

O endereço da plataforma, cujo aplicativo ainda está em desenvolvimento, é Wolo. TV. Ela adota o sistema pay-per-view — os valores partem de R$ 4,99, e há conteúdos gratuitos. Além de Casa da Vó, dirigida por Licínio e produzida durante a pandemia, constam hoje no catálogo mais cinco produções desenvolvidas por terceiros. A meta é terminar o ano com mais de 40 atrações, boa parte delas de produção própria.

Na segunda quinzena de março de 2020, período que marcou o início da quarentena no país, 7 milhões de mulheres brasileiras deixaram o mercado de trabalho, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Foram 2 milhões a mais do que os homens na mesma situação. Mineira de Viçosa, Jhenyffer Coutinho ficou a par da notícia nos Estados Unidos, para onde havia viajado para aprimorar o inglês. De imediato, a administradora de empresas lembrou de uma antiga pesquisa da HP. O estudo dizia que as mulheres, em geral, só se candidatam a uma vaga de emprego quando cumprem 100% dos pré-requisitos exigidos. Já os homens tentam a sorte mesmo atendendo a 60% das exigências. “Elas sofrem com a chamada Síndrome do Impostor, que as impede de arriscar”, afirma Jhenyffer, 28 anos, com a experiência de quem foi gerente de gestão da Associação Brasileira de Startups por dois anos.

Decidida a ajudar essas profissionais, a empreendedora criou em maio do ano passado a Se Candidate, Mulher!. No início, o projeto se resumia a uma newsletter. Três meses depois, já era um negócio digital. Exclusiva para mulheres, a plataforma da startup oferece três tipos de cursos preparatórios para processos seletivos. Todos somam 12 horas de aulas gravadas, que podem ser assistidas em até um ano, e incluem mentorias virtuais, em grupo, a cada 15 dias. Quem opta pelo pacote mais caro ganha uma consultoria para melhorar o currículo e o perfil no LinkedIn. O foco são as profissionais em início de carreira e as que querem reingressar no mercado de trabalho. Total de alunas até aqui: mais de 3 mil, 247 das quais já contratadas. A startup também atende o mercado corporativo — entre seus clientes estão companhias como Movile e PicPay. Até agora, foi bancada com recursos próprios, sem nenhum investidor. Para o segundo semestre, planeja um passo decisivo: o lançamento de um banco de talentos que funcionará como uma espécie de LinkedIn feminino.

DATA BASE • STARTUPS DE IMPACTO

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2021-06-04T07:00:00.0000000Z

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