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Racismo estrutural limita acesso a postos de liderança nas empresas

As organizações têm um papel crucial para combater o racismo e transformar a sociedade, com oportunidades profissionais e espaço para avançar na carreira

Quem tem mais chances de ser abordado de forma violenta pela polícia no Brasil? Quem tem mais chances de ser morto pela polícia? O levantamento “As faces do racismo”, realizado pelo Instituto Locomotiva a pedido da Central Única de Favelas, fez essas duas perg untas a 3.111 pessoas em junho passado. Para 94% dos que responderam ao estudo, a resposta é: “uma pessoa negra”.

Mas quem tem mais chances de conseguir um emprego? Para 91% das pessoas, a resposta é: “uma pessoa branca”. Na opinião de 85% dos pesquisados, o mesmo perfil tem mais chances de cursar uma faculdade. Entre os participantes negros, a renda média era de R$ 1.764. Entre os não negros, R$ 3.100.

Apesar de, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 56% dos brasileiros, ou 118,9 milhões de pessoas, se declararem pretos ou pardos, apenas 10% dos participantes do estudo têm chefes negros.

Os números expressam a face econômica do racismo estrutural do Brasil. Com menores oportunidades e maiores riscos, os negros encontram grandes dificuldades para conseguir emprego, ou alçar voos mais altos na carreira — o Instituto Ethos descobriu que, entre as 500 empresas de maior faturamento do País, os negros são 57,5% dos aprendizes, mas menos de 5% dos líderes em postos executivos e de conselho (veja mais números no quadro da página ao lado).

Desempenho e solidez

Em pesquisa apresentada durante o Primeiro Fórum de Fornecedores, Parceiros e Varejistas #Juntosparatransformar, realizado pelo Carrefour no último dia 28, o Instituto Locomotiva apresentou uma pesquisa que indica que 77% dos brasileiros consideram que pessoas negras são discriminadas no mercado de trabalho. E oito em cada dez brasileiros conhecem alguém que já sofreu preconceito e discriminação no ambiente de trabalho por ser negro.

Em outro levantamento, o Instituto Locomotiva calcula que os negros são um público consumidor expressivo, que movimenta R$ 1,7 trilhão por ano. E representam uma força econômica e produtiva fundamental para as empresas. Por sua vez, no ano passado a consultoria McKinsey realizou um amplo levantamento global sobre o impacto positivo da diversidade para as organizações.

Encontrou resultados expressivos: companhias mais diversas têm desempenho financeiro 36% maior. Como aponta o estudo, “as empresas da América Latina que adotam a diversidade tendem a superar outras em práticas-chave de negócios, como inovação e colaboração, e seus líderes são melhores em promover a confiança e o trabalho em equipe”.

Mais do que isso: “Elas também costumam ter ambientes de trabalho mais felizes e uma melhor retenção de talentos. Tudo isso se traduz tanto em uma saúde organizacional mais sólida quanto em resultados: empresas que adotam a diversidade têm uma probabilidade significativamente maior de alcançar uma performance financeira superior à de seus pares que não o fazem”.

Há motivos de sobra, portanto, para as organizações atuarem de forma a cumprir um papel crucial: o de colaborar para gerar sociedades mais igualitárias, na mesma medida em que incorporam à

sua força de trabalho profissionais capazes de levar criatividade e inovação.

O estudo identifica que funcionários de empresas diversas têm 152% mais chances de propor novas ideias e tentar novas formas de realizar processos da companhia. Em consonância com essa conclusão, um estudo da Harvard Business Review concluiu que uma equipe com diversidade está em média 17% mais engajada para ir além de suas reponsabilidades.

Mas como alcançar esses resultados na prática?

Medidas concretas

Uma forma de buscar a diversidade é investir na base da estrutura. Essa lição de casa as empresas em geral vêm fazendo: segundo o grupo Cia de Talentos, a contratação de negros e negras para programas de trainees saltou 118% na comparação entre 2019 e 2020.

O próximo passo é valorizar esses novos profissionais e, principalmente, proporcionar experiências enriquecedoras e oportunidades na carreira. Para garantir que esses novos talentos alcancem, de fato, cargos mais elevados na empresa, as corporações precisam criar mecanismos de suporte — e também ferramentas de compliance confiáveis para casos declarados de preconceito.

A postura da alta liderança, nesse contexto, é fundamental. Ela garante que a valorização da diversidade saia do discurso e alcance a rotina de todos os setores, de forma efetiva, proativa e transparente. Orientações claras a respeito, incluindo workshops e campanhas de comunicação, também ajudam a disseminar a cultura da diversidade.

A população em geral concorda, segundo o levantamento do Instituto Locomotiva apresentado no evento do dia 28: 86% consideram que, para a empresa vender para todos, ela precisa respeitar a diversidade racial. E 79% acham que incentivar a contratação de negros para cargos de gestão nas empresas é uma ação importante para o combate ao racismo.

AO LEITOR

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2021-06-04T07:00:00.0000000Z

2021-06-04T07:00:00.0000000Z

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