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Não basta promover a inclusão; é preciso ser antirracista

Painel reúne especialistas, empreendedoras e CEOs da Nestlé Brasil e da Procter & Gamble Brasil para debater ações concretas para que negros alcancem postos de liderança

Nos últimos meses, o Comitê Externo Independente e de Livre Expressão criado pelo Carrefour Brasil tem conduzido uma série de debates, que resultaram em propostas concretas, e não só para uma empresa específica.

Em busca de ações concretas e de longo alcance e longo prazo, alguns de seus integrantes, participantes do Primeiro Fórum de Fornecedores, Parceiros e Varejistas #Juntosparatransformar, anunciaram o lançamento de um Fórum Permanente Antirracista.

Um dos objetivos da iniciativa, capitaneada pelo Instituto Luiz Gama, pela Central Única das Favelas (Cufa) e pelo Instituto Locomotiva, é convocar os empresários brasileiros a aderir a três princípios essenciais para mudar a realidade brasileira: diagnosticar a diversidade entre os colaboradores, desenvolver políticas antirracistas e promover ações de letramento racial.

“Não basta incluir se o ambiente profissional não facilitar que as pessoas se desenvolvam e se sintam encorajadas a denunciar crimes de racismo”, argumentou, durante o fórum, Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

“Se você não criar um ambiente em que pessoas negras possam se desenvolver, não mudaremos uma realidade em que 54% acreditam que os

brasileiros não reagiriam bem diante de um chefe negro.” Em outras palavras, diz ele, “não basta incluir, é preciso ser antirracista”.

Espaços de poder

Meirelles apresentou números de uma pesquisa conduzida pelo Instituto Locomotiva sobre a percepção brasileira a respeito do racismo. Foi antecedido por uma palestra do professor, autor e advogado Silvio Almeida. “O racismo no Brasil é parte de um processo que está além do próprio País. Está vinculado à escravidão moderna, um fenômeno global, econômico e social que esteve na base das economias modernas”, afirmou.

Como resultado desse passado recente escravocrata, disse ele, “nós naturalizamos a ausência de pessoas negras e indígenas em espaços de poder, onde são tomadas decisões. Basta olhar uma sessão do Supremo Tribunal Federal, uma votação do Congresso Nacional ou as reuniões de diretorias dos conselhos da maioria das empresas”.

Uma solução para essa questão, ao menos nos espaços corporativos, está na busca por ações conjuntas entre as empresas. “O racismo é estruturante, complexo, e para criar soluções completas é preciso pensar de forma sistêmica. Para isso, as organizações podem agir conectadas”, argumentou Adriana Barbosa, CEO da Preta Hub. “As pequenas e médias empresas detectam os talentos. Precisamos desse conjunto, para que a gente possa fazer essa roda girar”, reforçou Rachel Maia, CEO da RM Consulting.

Celso Athayde, CEO da Favela Holding e fundador da Cufa, lembrou que o racista não é só a pessoa que ofende. “O simples ato de perceber as pessoas a partir do prisma da raça já é racismo. E isso se percebe nas favelas, que são espaços simbólicos de opressão.”

Liderar pelo exemplo

Juliana Azevedo, CEO da Procter & Gamble Brasil, e Marcelo Melchior, CEO da Nestlé Brasil, concordaram em um ponto: grandes empresas, que alcançam uma vasta parcela da população, precisam liderar pelo exemplo. “Corporações como as nossas, que alcançam respectivamente 90% e 99% dos brasileiros, têm a missão de conduzir o mercado na direção da igualdade de oportunidades”, disse Azevedo.

As duas empresas vêm buscando identificar talentos — o estudo do Instituto Locomotiva indica que 87% das crianças e adolescentes negros do Brasil não tiveram a oportunidade de estudar inglês. “Somos 30 mil pessoas na Nestlé, sendo 43% negros e pardos. Porém, quando vamos subindo na hierarquia, a representatividade dos negros cai para números ridículos”, afirmou Melchior. “Estamos trabalhando para combater esse problema.”

As duas corporações fornecem mentoria e cursos variados, inclusive de inglês, para garantir que a representatividade interna alcance novos níveis. Renato Meirelles lembrou que essa é uma ação com potencial de alcançar grande sucesso. “Tudo o que a Universidade Harvard e o Fórum Econômico Mundial dizem é que um CEO precisa ter as chamadas soft skills. E os jovens pobres de favela, que são majoritariamente negros, tendem a ter mais soft skills do que os ricos e brancos.”

O objetivo é levar a diversidade a um novo nível, o de combater o racismo de forma abrangente. Afinal, como afirmou Rachel Maia, “negro também pode estar sentado na cadeira de presidente”.

AO LEITOR

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2021-06-04T07:00:00.0000000Z

2021-06-04T07:00:00.0000000Z

https://revistapegn.pressreader.com/article/282608855743023

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