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DELIVERY DE QUASE TUDO

Quando o designer gráfico Iago Santos, 29 anos, trabalhava em uma empresa em uma área nobre de Salvador (BA), observava o vaivém dos entregadores dos aplicativos. O ano era 2018, e a sensação de receber compras na porta de casa ou do endereço comercial era uma novidade animadora. Pena que apenas para os mais privilegiados. Em São Caetano, área periférica onde Santos mora, os apps tradicionais não chegavam – e ainda não chegam. “Achava estranho, porque no meu bairro há um comércio superforte”, conta.

O incômodo foi compartilhado com Ana Luiza Sena, 28 anos, e Marcos Silva, 31 anos. Os dois se tornaram seus sócios no TrazFavela, um app de “delivery de quase tudo”, como Santos define. A ideia inicial foi lançada em 2018, na competição Startup Weekend, onde tiveram chance de trabalhar o conceito usando a estrutura de uma equipe montada no evento. Em 2019, participaram de uma incubação que tinha como objetivo orientar negócios de impacto social. Foi lá que fizeram seu MVP (mínimo produto viável) e testaram o serviço do seu projeto. “Uma amiga trabalhava com eventos e me chamou para entregar acarajés feitos por uma baiana que morava num bairro periférico no centro histórico de Salvador. Lá fui eu, a pé e de metrô, com mochila de entregador, transportar os quitutes, por dois dias. Foi nossa estreia”, conta Santos.

Em 2020, os três bateram de porta em porta para falar sobre o projeto e cadastrar interessados. A primeira cliente foi uma dona de sex shop que os indicou para amigos. O app “pegou”. Os próprios entregadores (que usam carro, moto e bicicleta) também passaram a divulgar a possibilidade de trabalhar dentro da favela. A pandemia só acelerou as coisas, criando um caminho para que os negócios sobrevivessem. No começo, tudo funcionava pelo WhatsApp. O comerciante recebia o pedido, passava para o TrazFavela, que retirava e entregava no endereço combinado. “Participamos de vários programas de mentoria e aceleração. Graças a isso, em janeiro do ano passado, pudemos contratar desenvolvedores para criar nosso aplicativo”, diz Santos. Hoje, a plataforma tem uma rede de 140 entregadores cadastrados e atende 40 comerciantes. Para gerar receita, cobra dos empreendimentos uma taxa de R$ 3 a R$ 5 por entrega realizada. “Entregamos quase tudo, mas principalmente roupas, calçados, produtos de sex shop, para pets, peças industriais, produtos de limpeza, cestas de café da manhã e marmitas”, conta o empreendedor.

O objetivo vem sendo cumprido: movimentar a economia local, sendo o operador logístico dentro e fora da favela. “Tem gente que acha que o trabalho de designer é resolver questões visuais. Engano. Também é desenhar soluções para problemas. O TrazFavela criou um meio para sanar a falta de acesso das favelas a serviços de entrega. Ele é prático e gera lucro.”

DATA BASE - FAVELA 5.0

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2022-05-05T07:00:00.0000000Z

2022-05-05T07:00:00.0000000Z

https://revistapegn.pressreader.com/article/281870122019461

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