Slow fashion ATENÇÃO À CADEIA PRODUTIVA
2023-11-03T07:00:00.0000000Z
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DATA BASE • MODA SOB MEDIDA
Como o próprio nome diz, slow (do inglês, devagar) é o oposto de fast (rápido) fashion. Ou seja, uma moda produzida sem pressa, com mais atenção aos detalhes e maior rigor no respeito à cadeia produtiva sustentável: matéria-prima, mão de obra, transporte, comunicação inclusiva e embalagens. Essa tendência conquista cada vez mais espaço. É voltada, principalmente, para um consumidor mais consciente, que topa pagar um valor maior para ter uma peça que foi produzida respeitando diferentes preceitos nos quais ele acredita. “Os itens costumam ser diferenciados, praticamente handmade, feitos artesanalmente”, afirma Thais Oliveira, do Sebrae. Para Márcio Ito, professor de planejamento de coleções e produtos de moda na Faculdade Santa Marcelina, “o slow fashion mostra o processo, a narrativa, o significado de consumir um produto desse tipo”. “O mais comum é encontrar marcas de roupas básicas, atemporais, que focam um público bem prático. Quem conseguir se diferenciar, mirando um nicho como o afro, pode se beneficiar, porque esse movimento vem se tornando cada vez mais robusto”, avalia Danielle Santos, da ESPM. Naia Silveira, da WGSN, afirma que o empreendedor que resolve trabalhar com slow fashion precisa deixar isso bem claro, como um aviso, uma nota de esclarecimento. “Pode ser tratado como um grande diferencial e, por isso, o consumidor vai entender a proposta e investir mais”, explica. Ela lembra que é importante conhecer muito bem o público-alvo que tem interesse em produtos mais sustentáveis, porque ele busca outros benefícios além do preço – como conhecer a origem dos materiais com os quais a roupa foi produzida, quem costurou e onde essa pessoa fica. Em geral, a moda slow fashion pode definir uma margem de lucro em torno de 40%, ante os 60% da moda varejista mais comum, em função do custo de produção mais alto, segundo a especialista. E, diferentemente do que muitos podem pensar, não é preciso ser grande para apostar nessa tendência. “Tenho visto até MEIs [microempreendedores individuais ]e microempresas se movimentando nesse mercado”, conta a consultora do Sebrae. “Uma possibilidade, inclusive, é a da internacionalização, quando a ABIT [Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção] faz parcerias, mesmo com marcas pequenas, para exportação. Há quem pense que precisa encher um contêiner para vender para fora do país. Isso não é verdade.” COM ALMA E COM CALMA Aos 54 anos, a carioca Mônica Sampaio sempre teve um quê de pioneirismo em tudo o que fez. Engenheira eletricista, serviu o Exército, onde chegou a ser chefe desse setor do Hospital Central. Também atuou na extinta Varig, não como comissária nem na área administrativa, o mais comum para as mulheres, mas na técnica, como gosta de pontuar. Nesses e em outros ambientes, destacava-se pelas roupas que vestia. “Chamavam a atenção. Gostava de usar peças cheias de personalidade, já que a moda sempre esteve em mim. Sou do tempo de costureiras de bairro, de cortes de tecido. Desenhava e mandava fazer”, conta. Tudo isso serviu de base para a Santa Resistência, marca que criou em 2018. Ela faz questão de dizer que não foi o seu primeiro negócio. “Não se podem contar só belas histórias. Ao empreender pela primeira vez, em engenharia, em 2015, não deu certo e fali”, lembra. Mas, segundo ela, isso lhe deu ainda mais força e vontade para encontrar outro caminho. A guinada de carreira veio aos 45 anos, e o nome da marca surgiu para lembrá-la sempre da força, da ancestralidade, das dificuldades para continuar criando moda e contando histórias. Esse, aliás, é o principal pilar da sua marca. A próxima coleção vai falar sobre o poeta e compositor Catulo da Paixão Cearense – quem nunca cantou os versos “Não há, ó gente, ó não, luar como este do sertão”? Assim, inspirada pelas artes e pela história, Sampaio desenvolve peças dentro do conceito slow fashion. “Para mim, essa é uma moda feita com alma e com calma”, define. A empreendedora explica que o número de peças é mais limitado do que a produção de grandes magazines; a produção, enxuta; e há dedicação de tempo e cuidados com a cadeia produtiva – matéria-prima certificada, compromisso com sustentabilidade, mão de obra que recebe o justo pelo seu trabalho. “Além disso, crio as estampas que refletem brasilidade e ancestralidade.” Ao comungar com essas crenças, seu consumidor gasta em média R$ 600, o que leva a um faturamento médio mensal de R$ 55 mil. Neste ano, a marca vai participar de sua 6ª edição da São Paulo Fashion Week. “Estar nesse evento foi uma baita vitória e vem me fortalecendo. Deixei a síndrome de impostora para trás e celebro as conquistas. Sempre soube que era capaz, mas tinha consciência de que precisaria aprimorar. A cada desfile, vejo mais maturidade no meu trabalho.”
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