Regina Tchelly

“QUERO COMBATER O DESPERDÍCIO E A FOME ENSINANDO AS PESSOAS A EMPREENDER E A MULTIPLICAR A COMIDA QUE TÊM EM CASA”

Com a promessa de receber o dobro do salário como doméstica, Regina Tchelly, 41 anos, desembarcou no Rio de Janeiro, em 2011, aos 19. Deixou a filha pequena com a família, mas trouxe na bagagem o amor pelos alimentos, que aprendeu com a avó, na roça, em Serraria (PB).

Na primeira vez que foi à feira, o desperdício chamou sua atenção. Perguntou ao feirante por que jogavam tanta coisa fora, e ouviu como resposta: “Aqui ninguém aproveita nada não, minha filha”. Recolheu verduras e legumes – e foi para casa.

No outro domingo, retornou com alguns quitutes feitos com as sobras que iriam para o lixo. Os feirantes degustaram e aprovaram. “A feira, para mim, é um lugar de encontro, de transformação, de se educar com sabores e cores.”

Ali, além de amizades que duram até hoje, ela plantou a semente da Favela Orgânica, que brotou só dez anos depois, em forma de projeto para um edital de R$ 10 mil a jovens empreendedores periféricos: “Ganhei um ‘não’ – acharam muito complexo”.

Ela queria ensinar como aproveitar integralmente os alimentos, cultivar uma horta em pequenos espaços e fazer compostagem. E foi adiante. Com R$ 140, fez a primeira oficina “Da Semente ao Talo” na sua casa, no Morro da Babilônia.

“Foram seis alunos na primeira semana; depois 10, 15, 20”, lembra. Organicamente, o negócio cresceu muito rápido. Dois meses depois, a chef estava na TV; em um ano, explicando sua metodologia na Itália.

Contabiliza dez palestras internacionais, 400 alunos nos seus cursos presenciais e online em 2022, além de workshops, catering e assessoria a escolas e restaurantes. Com chamados nas redes sociais, a meta é dobrar esse número.

“Quero combater o desperdício e a fome ensinando as pessoas a empreender e a multiplicar a comida que têm em casa, com o aproveitamento de sementes, cascas, talos e raízes. E que mais gente tenha comida saudável no prato”, diz.