Flávia Durante

“NA FILA DA EMPATIA, O GORDO É O ÚLTIMO. QUERO TRAZER DIGNIDADE PARA QUEM ESTÁ EXCLUÍDO DA MODA”

Quando veio de Santos (SP) para a capital paulista, em 2004, a jornalista Flávia Durante já era ativa nas redes sociais. “Nasci na era analógica, mas sempre fui superdigital”, diz. Discotecando na noite, gostava de usar roupas descoladas, mas engordou e não encontrou mais peças que refletissem sua personalidade: “Tinha 20 e poucos anos, não queria usar preto e saco de batata”.

Aos poucos, conta, isso foi minando sua autoestima. “Me sentia maltratada e rejeitada em lojas, às vezes com palavras, às vezes com olhares que diziam: ‘Aqui não é o seu lugar’.” Gordofobia, à época, não estava na pauta, e a forma que ela encontrou de se indignar foi revendendo biquínis plus size. “Minha mãe me emprestou cinco cheques de R$ 100 e comecei a empreender”, lembra.

Vendia no trabalho, na casa das pessoas, nos salões de beleza. Até que teve a ideia de convidar outras seis sacoleiras para fazer um bazar alternativo num galpão no bairro do Bixiga. Inspirada no Mercado Mundo Mix, nascia em 2012 a primeira costura do que se tornou hoje a Pop Plus, a maior feira de moda e cultura plus size da América Latina, que engloba também conteúdo, consultoria e curadoria.

Mas foi só em 2016, demitida do jornalismo e na crise dos 40, que ela enxergou que tinha um negócio com potencial: “Não era só um plano B”. Aliou-se à Art Shine Promoções e Eventos e fez o primeiro evento no Club Homs, na avenida Paulista, que chega à 33ª edição nos dias 11 e 12 de março (são quatro ao ano), abriga 90 expositores e recebe em média 12 mil pessoas – em 2022, faturou R$ 833 mil.

O desafio, ainda, é encontrar patrocinadores para escalar pelo Brasil. “Embora o discurso seja de body positive [movimento pela aceitação do corpo sem a necessidade de se enquadrar em um padrão], inclusão e diversidade, na fila da empatia o gordo é o último. Quero trazer dignidade para quem está excluído da moda.”