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INCLUSÃO PROFISSIONAL

Antes mesmo de receber o diagnóstico de autismo, jovem criou a aTip, startup dedicada a conectar profissionais com o transtorno a vagas de emprego

TEXTO CARINA BRITO

Em 2018, enquanto cursava faculdade de Sistemas de Informação, Caio Bogos, 27 anos, participou de um hackathon. O desafio era desenvolver projetos que gerassem impacto positivo para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sua proposta foi criar uma plataforma para acompanhar o desenvolvimento de crianças autistas. O projeto conquistou o segundo lugar, e ele decidiu seguir em frente com a ideia. Em 2019, transformou o projeto em negócio e fundou a startup aTip, em São Paulo (SP). Ele ainda não imaginava na época, mas também seria diagnosticado com autismo três anos depois.

No modelo inicial, a plataforma conectava os pais das crianças a profissionais multidisciplinares de saúde, como terapeutas, fonoaudiólogos e psiquiatras, e de educação, para definir os melhores caminhos no acompanhamento do transtorno. “A plataforma foi construída e validada, mas percebi ao longo do tempo que a comunidade autista adulta ainda é bastante desassistida em questão de inclusão no mercado de trabalho. Por outro lado, grandes organizações estavam mais de olho em neurodiversidade como um pilar dentro da empresa”, diz Bogos.

No final de 2020, a startup pivotou o seu modelo de negócio. Hoje, a proposta é fazer a ponte entre pessoas autistas e vagas de emprego. Ao se conectar a uma empresa, a aTip realiza uma pesquisa para identificar o grau de maturidade em relação à neurodiversidade, o nível de abertura da liderança para receber pessoas autistas e outros indicadores. Com base no resultado, prepara um programa educacional relacionado ao tema.

Em paralelo, a startup busca profissionais no mercado e abastece uma base de currículos. Também os ajuda na capacitação, analisando índices de comprometimento ou interação social, por exemplo, para oferecer treinamentos e desenvolver suas habilidades. Após a contratação, faz o acompanhamento da empresa e do novo funcionário por no mínimo três meses. “Tomamos bastante cuidado, porque não basta colocar a pessoa na empresa. Temos de promover a inclusão e o acolhimento.”

Ao buscar melhorar a vida de outras pessoas, Bogos gerou impacto para si mesmo. No ano passado, descobriu que ele também é autista. “Só consegui ter o meu diagnóstico formal porque tive contato com a comunidade. Comecei a identificar algumas características que eu sempre tive, especialmente em nível de interação social, e passei a me questionar se eu estava no espectro”, diz o empreendedor.

Hoje, aTip atende grandes empresas, como EY, iFood e Microsoft. Em 2022, ajudou 30 profissionais a se recolocarem e teve um faturamento de R$ 385 mil. A startup também é organizadora do Autismo Tech, um hackathon que promove desafios para a comunidade autista. O próximo evento ocorrerá em outubro. “Meu grande objetivo para este ano é impactar ainda mais pessoas, gerando mais oportunidade de trabalho”, afirma.

SUMÁRIO

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2023-05-04T07:00:00.0000000Z

2023-05-04T07:00:00.0000000Z

https://revistapegn.pressreader.com/article/281616719697395

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