Revista Pequenas Empresas Grandes Negocios

FOTO VINTAGE

Artesão cria câmeras fotográficas analógicas a partir de madeira reciclada

TEXTO LETÍCIA SÉ

Edison Rocha Filho, 33 anos, mais conhecido como Oggin, é fotógrafo e artesão em Fortaleza (CE). Segundo ele, a alcunha – que também dá nome à sua marcenaria – quer dizer “mar”, em gíria de piratas britânicos, e “plantar” em iorubá.

O empreendedor começou a produzir artes manuais quando morava na Argentina, entre 2015 e 2016. “Fui fazer um curso de fotografia em Buenos Aires, mas não deu certo. Acabei dando aulas de fotografia, baseadas na minha formação em Fortaleza, e passei a produzir pequenas peças de madeira”, diz.

O sustento no país vizinho, no entanto, veio com a venda de redes de dormir para camping feitas de nylon. “Levei para a Argentina cinco redes de acampamento. As pessoas se interessaram muito, não era um produto comum por lá. Pensei em importar do Brasil, mas não daria certo. Então, passei a fabricar”, diz Oggin, que aprendeu a fazer os itens por videochamadas com a mãe, que fabricava redes na juventude. “Em um dia, vendi 30 unidades, e cheguei a exportar para Chile e Uruguai”, conta.

De volta ao Brasil em 2017, ele deixou o negócio e quis abrir seu próprio ateliê em casa. A câmera de madeira, seu principal produto, foi criada há dois anos, a pedido do cineasta cearense Tiago Pedro. Para desenvolver o objeto, Oggin misturou elementos da cultura local do cliente, usando objetos como um ex-voto [pequena escultura de madeira usada para pedidos religiosos de cura]. Inspirada no modelo pinhole (palavra que quer dizer “buraco de alfinete”), a máquina não tem lente. “O fotógrafo precisa mover manualmente o obturador de madeira para fazer uma foto”, afirma. “Penso em chamá-la de ‘máquina de esperar’, porque ela nos lembra que a fotografia tem uma filosofia de gravar a luz”, diz.

O artesão, que também produz móveis e cadernos de capa dura, afirma que 90% da matéria-prima de sua empresa é madeira reciclada, que ele coleta em praias e ruas ou recebe por meio de doações de clientes. “O processo de reutilização envolve secagem, higienização e condicionamento. Sai mais caro do que se eu só comprasse madeira nova, mas eu prefiro assim pela sustentabilidade”, diz.

Atualmente, o empreendedor pensa em criar um site próprio, já que a maioria de seus pedidos são enviados pelo Brasil, e seu atendimento tem sido feito por WhatsApp. A longo prazo, ele quer conquistar também o mercado internacional, exportando suas peças para Europa e Estados Unidos. “Conheço um cineasta que vive na França e tem interesse nas peças”, conta.

Recentemente, Oggin chamou a atenção no Instagram com um vídeo em que mostra a criação de sua pinhole e seu funcionamento. “Tive 60 pedidos de encomendas”, conta sobre o post que atingiu mais de 471 mil visualizações. As câmeras custam em média R$ 250, e o preço varia de acordo com o tipo de matéria-prima, que pode ser madeira compensada ou maciça. O artesão fatura por volta de R$ 4 mil mensais.

SUMÁRIO

pt-br

2023-05-04T07:00:00.0000000Z

2023-05-04T07:00:00.0000000Z

https://revistapegn.pressreader.com/article/282209425184243

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.