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Loja colaborativa

ESPAÇO E CUSTO COMPARTILHADOS

Sabe aquele pequeno empreendedor que tem uma marca, mas não necessariamente recursos para investir em um ponto físico? Ele pode se juntar a outros na mesma situação e fazer parte de uma loja colaborativa, um espaço comum a diferentes marcas que o utilizam para fazer suas vendas sem precisar arcar com o custo cheio de um imóvel e/ou ponto.

Segundo o Sebrae, esse é um negócio fundamentado na ideia de um espaço físico para expor produtos e serviços de artesãos, microempreendedores individuais e pequenos negócios. Nesse modelo, os empreendedores dividem custos, divulgam e vendem seus produtos, em geral, em um ponto com boa localização comercial e estrutura de apoio, como banheiros.

Já o empreendedor dono da loja fica responsável por gerenciar a operação, treinar e coordenar vendedores e, muitas vezes, fazer a divulgação do local e das marcas que alugam boxes ou outro tipo de formato dentro dela, além de receber o pagamento dos clientes.

Em algumas lojas colaborativas, os locatários pagam uma taxa de administração que varia entre 20% e 30% sobre o valor do aluguel ou da venda dos produtos, de acordo com o Sebrae. Esse valor costuma ser direcionado a cobrir gastos com marketing, meios de pagamento (como cartões) e comissão de vendedores. Há empreendimentos que cobram uma taxa para o aluguel – que depende do faturamento da marca – e uma porcentagem sobre o total das vendas no mês.

Para Danielle Santos, da ESPM, as lojas colaborativas fazem muito sentido para pequenos empreendedores, porque eles diminuem seu custo de operação e têm a possibilidade de alcançar vários públicos para conhecerem sua marca. “O ponto de atenção é o fato de o espaço, em geral, ser bem limitado. Assim, é preciso fazer uma boa curadoria sobre quais produtos levar para a loja física”, pondera.

Ela recomenda procurar espaços que tenham a ver com o perfil dos produtos da marca. “Uma que comercializa várias de moda étnica não comporta uma de alfaiataria”, exemplifica. Lembra, ainda, que se a ideia é complementar o e-commerce com um ponto físico, a loja colaborativa pode ser uma boa opção também, mas é preciso ter a clareza de que ela traz novos custos.

“É importante colocar na ponta do lápis para entender o momento do seu negócio e se isso faz sentido”, diz Santos. “Em caso positivo, definir qual parte do seu portfólio tem maior potencial para vender ali. Para a sua marca, a estratégia omnichannel [multicanais] é complementar e interessante. E, para o consumidor, um deleite poder frequentar o espaço e ter mais essa experiência com a marca.”

UNIR FORÇAS PARA CRESCER

Ela trabalhava distribuindo panfletos nas ruas e como funcionária administrativa de uma empresa quando engravidou de gêmeos e se tornou mãe-solo. Ressentindo-se de ver pouco os bebês, resgatou o sonho de trabalhar com moda. “Aumentei muitos manequins e não achava roupa para mim, depois do nascimento deles. Fazia minhas próprias peças. Passei a produzir para as amigas”, conta Cynthia Paixão, 38 anos.

Durante a pandemia, fechou a pequena loja de roupas de tamanhos grandes e providenciou um rebranding da marca, ao participar de um projeto de aceleração de negócios. Ali, também conheceu empreendedoras mães-solo, que conversavam sobre como viviam momentos difíceis, sem trabalho.

Pensando em ajudar quem passa por uma situação parecida com a que havia vivido anos antes, ela decidiu alugar um espaço no popular Shopping Vasco da Gama. Daí nasceu a loja colaborativa AfroCentrados, em 2022, em Salvador (BA). Ela divulgou nas redes sociais e, em pouco tempo, formou-se uma fila de interessados em vender ali suas criações.

“Uma loja colaborativa é a solução para muitos empreendedores que ficam perdidos no dia a dia: afinal, têm de criar, vender, atender, postar nas redes. Não dá para romantizar o empreendedorismo. Ele é complexo. Porque empreender, muitas vezes, é sustento, mas também é sonho, cura pessoal para tantas dores. Por isso, me senti na obrigação de acolher tanta gente na loja”, diz.

Paixão buscou formação na internet. Ela entendeu o mecanismo de funcionamento de uma loja colaborativa, ajustando conforme a necessidade. Em pouco tempo, tinha 18 marcas em um espaço de 19 m². Os empreendedores desembolsam uma taxa fixa mínima de R$ 150 e uma porcentagem sobre as vendas. A loja se responsabiliza pela administração e pelo sistema de gestão de estoque que acompanha vendas, saídas e entradas.

O negócio ainda não se paga – toda a receita é reinvestida na AfroCentrados, que, apenas um ano depois de abrir a primeira loja, mudou para um espaço de 52 m² no Shopping Bela Vista, um dos maiores de Salvador, e que agora acomoda produtos de 35 marcas. “É a primeira loja com criações de afroempreendedores no local e isso provoca uma reflexão: sozinho a gente até chega, mas juntos chegamos mais rápido.”

Segundo o dicionário Houaiss, coletivo é “aquilo que compreende ou abrange muitas pessoas ou coisas, ou que lhes diz respeito”. Um coletivo de moda é exatamente isso: reúne empreendedores que, em geral, compactuam com ideias semelhantes e trabalham em prol delas.

Em geral, de acordo com Danielle Santos, da ESPM, tem um viés, uma mensagem mais politizada. Podem ser marcas que se preocupam com sustentabilidade ou outra pauta mais específica, como movimentos que atuam em defesa da cultura periférica, afro ou do feminismo, entre outros. “A loja colaborativa vai focar na venda de produtos, mas o coletivo existe para além da moda. Trata-se de realmente uma atuação mais ampla em torno de ideias”, diz.

Márcio Ito, professor da Faculdade Santa Marcelina, cita outro ponto relevante desse tipo de negócio: a união de competências. “Imagine que cinco pessoas tenham conhecimento sobre uma técnica.

Ao se juntar, viram cinco forças técnicas que se multiplicam em suas redes e fazem com que determinado produto chegue a públicos diferentes”, exemplifica.

Para fazer parte de um coletivo, a especialista Danielle Santos lembra que é importante que a marca tenha uma visão madura do seu posicionamento, de como quer ser vista pelo consumidor. O negócio ao qual vai se associar deve ter coerência com o que ela acredita.

Thais Oliveira, do Sebrae, ressalta que, antes de fazer parte de um coletivo, o empreendedor deve avaliar quais são as vantagens: pode ser positivo para o fortalecimento da marca, porque outras que compactuam de uma mesma ideia aliam forças para divulgar uma mensagem em comum, por exemplo. Também pode ser bom porque, em uma loja colaborativa, se dividem despesas e administração do espaço. Mas, de novo, estar ali precisa ser compatível com o que a marca acredita.

MODA COM IDENTIDADE

Bem antes de criar o coletivo PopAfro, no Rio de Janeiro (RJ), Ligia Parreira, 42 anos, já circulava pelo mundo da moda e do ativismo pelo empoderamento feminino e conscientização sobre a necessidade de encontrar mais espaço para o afroempreendedorismo.

Publicitária de formação e pós-graduada em moda e marketing de moda, ela fazia moda identitária antes mesmo de se falar nesse tipo de movimento. “A iniciativa veio porque trabalhava em agência e sentia falta de representatividade. Questionava por que modelos negros não estavam nas passarelas e na publicidade. Essa era minha leitura enquanto mulher negra, suburbana, periférica”, lembra.

Embora fosse atuante na defesa do protagonismo negro, à época ela tinha apenas 20 anos. Com o tempo, foi amadurecendo e experimentando outras formas de trabalhar dentro desse tema. Uma delas foi participar de uma oficina de moda afro, do Sebrae, onde encontrou outros empreendedores negros do segmento. Foi o passo inicial para a formatação do primeiro coletivo que integrou. Ela participou ativamente da sua criação, levando sua expertise em marketing, publicidade e moda.

O PopAfro veio algum tempo depois, em 2019, quando preferiu fundar outro coletivo: “O objetivo sempre foi dar mais visibilidade e popularizar criações pretas. Muitas vezes, os negócios de moda afro ficam ‘guetificados’ demais, e acredito que temos de ir para mais lugares”.

Atualmente, ele é gerido por Parreira e pelas sócias, Ignez Teixeira, 53 anos, e Jaciana Melquíades, 40. Ocupa dois pontos – um no Shopping Madureira e outro na Pequena África, local histórico conhecido por abrigar a resistência negra no Rio de Janeiro.

“O PopAfro é uma reunião de pessoas que estão ali com a finalidade de disseminar a moda afro e discutir ideias para atingir esse propósito. Não há hierarquia, mas colaboração. E união de forças para conseguirmos vantagens comerciais, como a aquisição de insumos de fornecedores comuns para termos descontos”, explica.

A gestão, porém, não é horizontal. As três sócias se dividem na curadoria das marcas, no planejamento, no marketing e na administração. Os participantes pagam de R$ 800 a R$ 1,2 mil mensais para estar na loja colaborativa e uma taxa de 20% sobre o total de vendas – disso, 15% fica com o coletivo. Em 2022, o faturamento foi de R$ 1 milhão, e a expectativa para este ano é de crescimento, já que a unidade instalada na Pequena África, em agosto, deve trazer novo fôlego.

DATA BASE • MODA SOB MEDIDA

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2023-11-03T07:00:00.0000000Z

2023-11-03T07:00:00.0000000Z

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